sábado, 20 de setembro de 2008

Isaac Alfaiate

Cenas e Cenários
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Acabava eu de transitar do departamento de vídeo para o de fotografia, na maior produtora de ficção para tv, quando Isaac Alfaiate protagonizava um dos primeiros papéis na Série Juvenil até agora mais aplaudida e mais criticada, da história da televisão em Portugal.

Um dos momentos altos desta Série, em que trabalhei desde o primeiro episódio, foi quando senti existir ali a preocupação de integrar aspectos de grande impacto na vida social e política de Portugal, sendo isto um factor encorajador e de altíssimo regozijo, para todos os que aspiram a uma Televisão Civilizada e que se entenda, se observe e se projecte no âmago da Cultura e na construção das mentalidades, deixando credibilizar com solidez, o Futuro. Infelizmente, não dispomos de uma Televisão assim. Este foi um momento de feliz excepção.

Dentro da Série, colocava-se uma Peça de Teatro, a que os actores de televisão tinham de resistir. Embora se trate de representar, uma e outra coisa são distintas. E fundir num mesmo Cenário as duas, deixou-me dinâmico como um coração de criança.

Era então uma Peça sobre o 25 de Abril, talvez demasiado decalcada do filme de Maria de Medeiros. Mas, louvável. Isaac encarnava o Capitão Salgueiro Maia. No intervalo das gravações cruzá-mo-nos num corredor do estúdio e o Isaac estatelou-se-me nos ombros, como se me requisitasse reservas de energia anímica que lhe pudesse fornecer.

Logo quis saber o que eu estava a sentir sobre aquela sua ousada viagem, a processar-se em 2007, mas a viver-se há 33 anos atrás, até ao interior da pele de um dos Homens mais generosos que Portugal até hoje conheceu. Nas minhas considerações, transmitidas de imediato, a coragem, as humanidades, reveladas nas grandes obras de Futuro, em que só o fundo e a superfície do amor, juntos, conseguem abrir as portas, estavam as referências que a Maria foto-filme-grafou, melhor que quase a realidade.

Olhá-mo-nos de novo, mas os olhos já não viam. Estavam a transbordar de água. Isaac, assim, Já foi Capitão de Abril.

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sábado, 2 de agosto de 2008

Ana Zanatti

No Limiar do Transcendente
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Se à serenidade lhe pudesse ser atribuído outro nome, não teríamos dificuldade em encontrá-lo. Estaria aqui. Nome não diríamos, mas sentido, talvez. Significado, é melhor. E significado porque Ana Zanatti a representa no expoente mais completo e pleno. Representa, também não queremos dizer, actuar. Zanatti interioriza e devolve-nos qualquer personagem de forma irreprimível. Que a representa, a serenidade, no sentido de ser uma genial embaixactriz da paz. Por onde passa, a sua energia mágica e benévola, atinge-nos e acolhe-nos. Como se ali regressassem unidos e solidários os afectos de toda Terra, quase sempre dispersos e distraídos, despreocupados em seus maternais cuidados. Ali tudo muda.

A exigência de uma profissional brilhante, sábia e dedicada, torna prazer o que noutros casos se adivinha fadiga. Por vezes, sente-se saudade, de a termos perto, nos Palcos, diante das Câmaras, nos Ecrãs dos cinemas e de casa. Se Portugal ousasse o nascimento dos portugueses num País já resolvido, que não se perdesse e desgastasse depois de quase 1000 anos de História, em experimentações e ensaios de laboratório sobre a vida dos seus cidadãos... Que consome e mal cuida, entre o que não dá de meramente essencial e o que atravessa da humildade e do Direito com as espadas dos seus cinzentos interesses... Então Ana, teríamos uma sementeira de amor, como a que nos mostras sempre, possível de semear e de colher.

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